domingo, 28 de agosto de 2011

Mate cocido

Por favor, diga que há bananas com chocolate na geladeira. Diga que há biscoitos recheados no armário e hambúrgueres no congelador. Nunca a comida foi tão fundamental para mim. E comer bem e gostoso, até que a razão, e não o estômago, o qual é invencível nesses dias de fome nostálgica, diga que devo parar. E recomeçar tudo de novo pela manhã seguinte, as refeições coloridas, os pratos finos e decorados. E não mais esse chá adocicado que eles bebem. É isso o mais próximo do chá inglês? Não, para mim ponha o chá de nossas matas sul-americanas, o chá sulcado pelas mãos dos bandeirantes. As folhas pisadas por botas, deixadas ao sol e esquecidas no afã de desfazer o acampamento.

Mas, hoje, descobri seu nome. Adivinhei-o no cardápio, e nunca havia pensado que poderia vestir-se em nomes rústicos assim. Você é meu agora, tirei-o das mãos cafetinas daquela cafeteria de luz amarelada e feia. E fugirei com você, ainda essa tarde, em um ônibus amarelo, para as terras frias e desoladas do extremo sul. Comprei ponches, comprei livros de história para você. E eu os lerei em suas costas, gravarei esse perfume verde e bandoleiro em suas folhas. Fundaremos missões e ensinaremos os índios que restaram a tocar flauta. E você, mate cocido, incendiaria seus cabelos de pólvora e meus anos ancestrais, roubados de uma página de apostila escolar.