quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Baratas são insetos, não Césio-137

" - Bonjour, mon ami! Je m'appelle Michel Durand. Je suis français, j'ais quarante ans et je suis ingénieur. Je suis marié et j'ai deux enfants. Je suis né le quatooooooo!!!!..."

E é assim que sou apresentado a uma simpática baratinha (e, não, isso não foi um grito, mas mera elevação do tom de voz; eu raramente grito; aquela noite em que eu acordei com um grito foi algo inédito na minha vida, por favor, Sr...). Prontamente meu instinto infantil alertou-me de uma perigosa intrusa que deveria ser imediatamente combatida. De um pulo, interrompi todos os meus afazeres e, depressa, saí correndo em busca do veneno. Já de posse, não me poupei e, barrocamente, espargi litros em cima da nefasta ameaça (aqui o Iluminismo mandou lembranças com seu candeeiro). Não teve tempo nem de fazer suas epopéicas corridas pelos aposentos. Morreu antes que pudesse detalhar completamente seu cartão de visitas. Pronto! Missão cumprida! Lamento tão somente o impacto que sinto sempre que elas aparecem. É uma sensação de repugnância e de desconforto com a natureza, como se essa estivesse sempre na iminência de mostrar-me as bestialidades que cultiva secretamente enquanto durmo (para mais reflexões, leia: KANGUSSU, André. Reflexões sobre a vida. Curitiba: Déjà Lit, nov. 2009).

É de fato uma pena, e peço a mim mesmo mais racionalidade da próxima vez. Afinal, as baratas são tão sórdidas e desprovidas de beleza quanto qualquer outro inseto (com exceção das abelhas, abelhas são amigas). Não há necessidade para tamanha exasperação. Veja bem, eu esmago com os dedos formigas, pernilongos, gafanhotos e até deixo as joaninhas passarem incólumes através dos meus domínios. Com as baratas é diferente. Ninguém que eu conheça mataria uma com as próprias mãos. Mas por que as baratas provocam tanto asco nas pessoas? São tão enojadas e temidas que facilmente viram assunto. Eu sei, eu compreendo. Não ignoro que fedem. Sei que transmitem doenças. Mas esse alvoroço todo chega a ser doentio. Sem contar que, depois de ter matado, demora-se um tempo para esquecer sua presença. E isso não é legal.

Não estou defendendo uma atitude passiva diante das baratas. Acredito piamente na necessidade em exterminá-las da face da Terra. Só gostaria que as pessoas não as tratassem como problemas do mesmo nível de um incêndio. E também, gostaria que não passassem isso às crianças, nosso futuro. Às criamça não vou incutir temor nem asco. Antes, trabalharei para que sintam ódio e destemor por elas. Teria gosto em vê-las correndo atrás das baratas, ansiosos de seu sangue, perseguindo-as implacáveis pela casa. Sua intrepidez seria tanta que fariam um colar de seus crânios e competiriam entre si para ver quem matou maior número. E não sentiriam nenhum nojo, nenhum medo. Está bem, imaginação a parte, só quero que matem baratas como eu mato formigas e outros insetos. Assim, que não se sintam frágeis diante de situações que inevitavelmente acontecerão. Só isso.

PS.: A citação inicial possui efeitos meramente cômicos.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Filigranas

Com visita em casa, propus-me a fazer chá. Porém, a proposta antecedeu ao fato: não havia me dado conta que só restava um sachezinho. Por óbvio que eu não ia dar escândalo. Por óbvio que eu não ia mencionar o fato. Simplesmente usei o mesmo sachê para as duas xícaras. Eu sou assim. Estou orgulhoso de mim mesmo pela discrição e por resistir à tentação de alardear a miséria do meu armário (fazer de suas agruras assunto: 4 pontos+antecipação da hora de ir embora). E é claro que eu não perguntei se o dito cujo gostaria de mais chá. Na verdade, foi sorte do convidado, pois eu não hesitaria em pegar de volta do lixo. Às vezes, meus caros, é necessário um pouco de heroísmo para salvarmos um pouco do que resta em nossas decadentes vidas.

Lição para a vida I: Não é preciso ser Jesus para perceber que um sachê rende mais do que uma xícara.
Lição para a vida II: Sempre, mas sempre desconfie de seu anfitrião.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Superfície de Vênus


Pintura do artista espacial Chesley Bonestell, nos anos 50. Lindo, não? Gostaria de morar (pelo menos passar uns tempos) em um lugar assim, de tirar o fôlego. Observem a densa atmosfera responsável pelas temperaturas calcinantes do planeta (460ºC, em média), resultado de um galopante e inexorável efeito estufa (o ar é 96% de dióxido de carbono). Aqui e ali, refrescantes nuvens de ácido sulfúrico. Não vejo a hora do mesmo acontecer à Terra...

(Imagem obtida da obra "Pálido ponto azul", de Carl Sagan. Pobre livrinho... Sofreu para adequar-se na superfíce bidimensional do scanner).

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Segundas Intenções

Essa carta é belíssima. Ganhou minha predileção não tanto por sua utilidade (que é bastante, visto que não só meramente destrói a criatura infensa, mas remove-a de jogo, anulando absolutamente sua existência), mas pela idéia que traz. Sempre fui, de certa forma, avesso às estratégias agressivas, descaradas, óbvias demais. Não gosto das cartas que ridiculamente baseiam-se na força bruta, ou simplesmente fazem o jogador perder pontos de vida (que graça?). Não. Isso é, para mim, tão insípido... Aniquilam, sem dúvida, a força do inimigo, mas, além de ser simplista demais, deixam intacto o princípio. Prefiro as cartas que controlem, manipulem, neutralizem o inimigo. Sou muito mais as jogadas que envolvam persuasão, dissimulação. Por exemplo, cartas que façam o oponente "revelar a sua mão", descartar, bloquear o ataque, assumir o controle, mesmo que temporariamente, da criatura inimiga, virar criatura alvo, anular mágica, etc. O jogador até desfruta de prosperidade, mas não consegue mover um dedo. Mormente, persuadir o inimigo a desistir; exaurir por completo sua vontade de continuar; convencê-lo de que é inútil tentar qualquer ataque. "De repente Forin começou a compreender que a lavoura era uma profissão até que nobre". E plim!, a criatura desaparece! Belíssimo, não? Essa carta sabe onde está o poder. Bom, agora só falta confessar que muitíssimas vezes perdi a despeito da beleza dessa estratégia. Mas, enfim, a arte em si mesma.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Pavão misterioso

Pássaro formoso. Pois é assim; toda vez que estou numa loja de roupas, desesperada e impacientemente escolhendo algum modelito que me sirva, o vendedor interpela-me com uma do tipo: "Você é daqui de Maringá, mesmo?". Ora, o que isso quer dizer? De onde será que pareço proceder? Estrangeiro? Provavelmente não. Curitibano, paulistano, brasiliense, carioca? Oxalá que sim! Mas... provinciano? De vila? Já me chamaram de católico, vendedor de CD pirata e até de estudante de educação física. Mas de provinciano seria uma ofensa de trancar-me no banheiro (na verdade eu me trancaria no quarto; prefiro o conforto da cama do que o duro assento do vaso). Mas a questão é: por que enredo de samba não aparento ser maringaense (pois de fato não sou)? Não ando por aí com mala. Humpf! Sinto ímpetos de desprezar essa cidade de gente com cara de barro. Mas vamos lá, vamos tentar não compreender a situação (:D). Pena que me peguem sempre de surpresa, e eu, no susto, respondo: "Sou". Na próxima vez eu lhe perguntarei de onde ele acha que saiu este objeto. Então, esperarei tenso ou ansioso pela resposta. Seja o que vier, assumirei de bom grado a nova roupagem. Quem sabe até role uma devolução. Ou não, vai que de repente... Afinal, quem não deseja ser uma espécie exótica da Amazônia? Eu que não.

domingo, 22 de novembro de 2009

Serial killer em Marte

A história que se segue é de um filme cuja lembrança me veio hoje. Faz muito tempo que assisti, e não me lembro de detalhes. Por isso, não me peçam explicações, que eu ainda não as encontrei. Peço, antes, apenas um pouco de respeito, concatenação e corolários. Juro que não serão necessários, mas confiem em mim; algumas passagens talvez possam... Bom, penso não pedir muito. Acho que é tudo. Tirem seus chicletes/halls das algibeiras, meus caros, que lá vem:

Assim assim, uma espaçonave foi enviada em missão à Marte. Tudo corria bem, carinhas ansiosas e aventureiras, até que... Entretanto, após passar por turbulências procelárias ao atravessar a densa atmosfera marciana (sei lá, ok?), caiu desastrosamente no solo marciano. Com a queda, a missão restara absolutamente incomunicável. Não havia como contatar com a Terra, pois alguma coisa ali quebrara. A situação era desoladora (o diretor podia ter explorado mais os sentimentos de desolação e de alienação, mas não: a tripulação age como se tivesse caído no Afeganistão). Não me lembro o motivo que os levou a sair da cápsula ou... Mas, tcharam! A sorte deles é que o ar era assim assim respirável. Ora, mas que legal! Agora só restou saber como lidar com o frio extremo e a radiação. Mas isso não importa, os problemas com temperatura ficariam completamente esquecidos diante de um inesperado perigo. Sim, o robô, devido a panes em seu sistema, desenvolvera tendências psicopatas.

O robô, até então enviado com a missão para fins meramente científicos e pacíficos (caso encontrasse acólitos de Ares vivendo em tendas no deserto marciano), rebelou-se contra o julgo dos algozes humanos, e resolveu barbarizar com a tripulação sobrevivente. Aproveitando-se de sua relativa impunibilidade, saiu pelos páramos vermelhos matando um a um. Implacável máquina a persegui-los, o robot revelava a mais nefasta parte de seus circuitos. Ele não só matava como também filmava os derradeiros gemidos de suas vítimas. Sim, ele queria que o outro astronauta assistisse a seu amigo morrer. Sim, ele estava equipado com instrumentos mortais. Sim, era assustador, e a situação dos sobreviventes era tensa.

Bom, vamos dar um end nisso. Após muitas estripulias, o astronauta sobrevivente conseguiu, enfim, destruir o robô com uma arma branca. Mas, tcharam! Há outra ameaça em Marte. Terríveis hordas de insetos rastejadores devoradores de tudo (a fauna e flora do planeta resumiam-se em líquenes e nesses besouros) perseguiam-no. Mas, zaz! Ele consegue fazer uns improvisos na nave, conecta tubo de combustível aqui e ali, e a nave decola, em um aliviante retorno para a Terra.

É claro que não contei a parte do cientista-astronauta-idiota que atrapalha tudo ao tentar levar um desses temíveis insetos para a Terra (ele perecerá em Marte comido por eles). Creio não necessitar de muitas explicações...

PS: Eu não lembro do nome do filme, o que é uma pena.
PPS: Não vai querer fazer isso, heim, R2-D2!...
PPPS: É que eu sempre desconfiei daquele aspirador-de-pó...

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Dano qualificado contra patrimônio público

Essa é a segunda vez que me surpreendo com páginas arrancadas. Mas não foi apenas um trechinho sem importância, como anteriormente, e sim três folhas inteiras miseravelmente vilipendiadas. Pergunto-me se acaso o sujeito ativo do delito (observem eu usar e abusar de expressões jurídico-penais) sabe que o xerox fica apenas a dois lances de escada+corridinha de corredor. E não é caro, não: gastaria insignificantes trinta centavos. Porém escolheu o caminho do crime, e sua conduta horrivelmente delituosa e (por quê? porquê?), certamente, dolosa recaiu sobre um bem público de uso comum: livro de biblioteca (art. 163, § 1º, III do CP).

A duras custas aprendo que as outras pessoas não pensam/agem como eu. Mas fazer algo assim? Por quê? Por quê? Que motivo levaria uma pessoa a arrancar brutalmente trechos de um livro de uso comum? Aliás, por que alguém danificaria um livro, esse objeto sagrado? Pelo simples prazer de saber que o próximo leitor inevitavelmente broxará ao se deparar com o feito? Para fixar o fragmento na sua parede, ao lado de seus pôsteres bregas? Usaria como lenço de papel, numa inequívoca manifestação de protesto contra o livro? Enfim, não consigo encontrar uma explicação racional. Eu, ao menos, quando leio algo que me agradou, não tenho ganas de arrancá-lo...

Espero que o agente em questão compreenda que toda sociedade erige seus inimigos, e, por conseguinte, toda pessoa erige os seus inimigos. Sem dúvida alguma, ele é, a partir desse sórdido momento, meu inimigo, e não hesitarei em vingar-me (uso arbitrário de suas próprias razões - art. 345, CP). Entenda, meu caro, que se trata de legítima defesa, afinal, é nosso dever, como continuadores do código genético, a eliminação daqueles que nos turbam a liberdade de ler um livro em sua integridade.

PS: e só pra constar, ontem eu ri de montão, ok? (raios de inveja).
PPS: aliás, já ia me esquecendo que o delito em epígrafe acarreta detenção, de 6 meses a 3 anos, e multa; só pra deixar avisado os possíveis delinqüentes que infestam nossas boas e renomadas bibliotecas.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Pró-Futuro e Além

Bom, até onde me guia a cegueira, todos nós sabemos o quanto o passado é brega, obscuro e desconcertante; sempre. O presente, vocês sabem, é aquela lástima, pão com margarina, mendiguinho espetando seu olho. É ou não é, gente? É! Então, por exclusão, o que sobra? O futuro. Ora, e não é sempre a melhor parte? A mais querida, a mais esperada, a mais... Não é por mera veleidade que se declara que o futuro deve ser nossa maior preocupação. Não! Alguém aqui duvida que o homem jamais teria chegado à Era Espacial se jamais houvesse planejado a colheita da próxima safra (hum... Rio Nilo)? Além do que, a moderna ciência já nos permite aferir, com segurança, que o futuro é tão real quanto o presente. E, muito mais além, podemos até dizer que toda a realidade reside, de fato, no futuro; ou, talvez, que justamente o presente é função do futuro. Quanto ao passado, esse não existe se podemos destrui-lo. Bom, sem mais delongas, passemos aos nossos objetivos.

Todos nós sabemos (risadas incômodas) que a Terra não durará para sempre. A Terra, meus caros, não é eterna. A lua, um dia, se desprenderá de seu campo gravitacional. Seu núcleo não será para todo sempre quente, um dia se resfriará. E, um dia, o Sol engolirá a Terra. Lembre-se, também, que em breve a Terra atravessará a zona mais conturbada da Galáxia, o que significa que, eventualmente, será atingida por meteoros idôneos a destruir ou turbar a Humanidade. E diante dessa previsão escatológica (risos da platéia), digo, catastrófica, o que fazer?

Pois o partido Pró-Futuro e Além tem a resposta. Está claro que o destino da Humanidade não pode mais estar ligado ao de Gaia. Com todo o respeito, a Humanidade não pode mais depender de circunstâncias que ela simplesmente não criou e não pode controlar (o Universo, por exemplo, é uma dessas coisas). O que fazer, então? As soluções talvez não sejam simples, ou muito menos palpáveis às nossas curtas existências (porém isso não importa; basta recordar que estamos projetados para o futuro), mas são absolutamente exeqüíveis, e podem/devem começar desde já.

Antes de tudo, devemos fortalecer o poder da ONU e aumentar consideravelmente os efetivos das tropas de paz. Na verdade, os efetivos militares devem, gradualmente, restringir-se à ONU. Ora, o que isso significa? É exatamente isso: a criação de um governo global. Só assim poderemos aproveitar todo o potencial econômico e humano que nos reserva o planeta, sem os incômodos entraves que as rebeliões regionais poderiam obstar-nos. A Humanidade, assim unida, seria capaz de perpetuar-se indefinidamente para lejos de nosso pequeno sistema solar.

Em segundo lugar, urge a ocupação militar (precaução nunca é demais) de Marte. Ao contrário do que muitos pretendem, não é nossa intenção "terrificar" o planeta (além de despender de um tempo que nós certamente não temos, isso significaria apenas a reprodução de um problema que estamos tentando eliminar). Na verdade, o que pretendemos é drenar todos os seus recursos minerais para a consecução de nosso plano final: a construção de uma nave-planeta. Feita por humanos e para humanos, vagando indefinidamente pelo espaço, esse monstro tecnológico possibilitaria à Humanidade sobreviver à inevitável e lenta degradação do Universo.

Por último, e talvez o mais importante, lançaremos a Terra de encontro ao Sol. Incinerada, poderemos vagar, enfim, em paz pelo Universo, pilhando alguns planetas e pulverizando-os logo após.

Talvez muitas coisas aqui ficaram de fora (desenvolvimento de tecnologia que nos permita criar nossos próprios componentes químicos, criação de estrelas artificiais, manipulação de buracos-negros, eliminação de documentos que se tornem obsoletos, etc.), mas penso que consegui transmitir-lhes o essencial.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Celofane


Celofane
Celofane
Celofane (eco)

pense celofane
use celofane
viva celofane
seja celofane

biodegradável, ético, não-tóxico, super moderno.
de papéis de balas a trajes espaciais.
excelente caimento.

domingo, 4 de outubro de 2009

New Deal

O quê? Capoeira? Botar a molecada pra tocar berimbau? Ora, francamente!... Isso é taão estudante de educação física... Há maneiras mais divertidas e úteis de canalizar o ódio das massas. Poderíamos mobilizá-las para a construção de estradas, pontes Brasil-Europa, lojas de departamento ou pirâmides, por que não? Pirâmides são excelentes para... Enfim, poderíamos inclusive, daí, ressuscitar antigas práticas do Antigo Egipto (Antigo Ceilão, Butão, sei lá, se virem). Por exemplo, quando do término do mandato do Presidente da República, enterraremos juntamente o Senado, a Câmara e os que trabalharam na construção da pirâmide. O que acham?

Mas, enfim, estou aqui mesmo só pra dizer o quanto estou feliz com a escolha do Rio de Janeiro como sede da Olimpíada de 2016. Realmente orgulhoso da delegação brasileira que conseguiu mais essa vitória, tudo com um comportamento digno, nobre e respeitoso com os demais concorrentes. Vai que é tua, Brasil!
(Envergonhado, escandalizado e fritando coxinhas).

Aliás, vocês sabiam que "o consumo de uma noz-moscada inteira ou 5 gramas de seu pó pode causar alucinações auditivas e visuais, descontrole motor e despersonalização"? É, eu só estou tentando disfarçar a minha vergonha... New deal brazillian way, concordam?

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Mostarda, eu te amava

Alô? Alô? Já está funcionando? Caham.
Oi, meu nome é Murilo. Eu tinha uma camiseta azul. Um azul muito bonito. Não sei se sempre foi dessa cor ou se ficou assim com o tempo. Era a minha camiseta favorita. Oito anos de companheirismo inveterado. Muitas festinhas de casamento. Muitas baladas. Muitas rodinhas-de-tereré. Ainda me lembro de seus dias primevos em que era a camiseta de ir na missa. Uma segunda pele. Mas um dia, resolvi que não precisava de guardanapo para comer meu hambúrguer. E paguei, como ainda pago, o preço de tal pecado. Lambuzei de mostarda o seu lindo (ínclito?) tecido. Não importava quantas vezes eu lavasse, a mancha simplesmente não saía. O que quer que houvesse naquele inocente sachezinho, não era mostarda. Devia ser corante puro plus traços de substâncias não-autorizadas. Já esfreguei. Já bati. Já chorei. Já usei ácidos. Já me benzi. Mas a mancha resta lá, praticamente incólume. Por isso estou aqui, tentando me recuperar. Meus caros, se há uma lição a ser levada daqui, é que: o mundo é injusto; mostarda provavelmente é cancerígena; todo sanduíche devia ter somente uma abertura; e Jesus não vai descer só pra tirar a mancha da sua roupa.

domingo, 13 de setembro de 2009

Opa, campeão!

Ai, ai..., nada como um quebra-molas para "mexer" com as nossas vidas (risos). E enquanto tento desesperadamente domar este monstro mecânico, penso carinhosamente em todos aqueles que insistem em pôr sufixos em meu nome... Não é ma-ra-vi-lho-so ver-se de repente agregado por uma série de diminutivos, aumentativos, superlativos, dentre tantos outros mais carinhos?

E o carro afoga. Um rapaz vulg..., digo, prosaico, segurando uma caneca e sem camisa, compadece-se de minha situação e, atento, encara-me longamente, piedoso. Ah..., sua cara de moço que chafurda no mingau que a avó fez faz-me pensar na revolucionária apologia do homem comum, tantas vezes, e muito bem, enfatizada por aquela pátria que rumina em algum lugar do norte. Crede-me, tentar qualquer apotheosis nesta terra é como comer cereal ao som de música clássica.

Dizendo assim, até pareço um vilão, não é? Mas até eu, de vez em quando, gosto de comer pão com mortandela como todo mundo (risos).

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Nenúfares serão meu atavio

Eu, aqui, enquanto frustro-me em desejos anacrônicos, torturando-me em busca de atavismos sem precedentes, sofrendo sob um Sol que não é amarelo mas branco (pasmem, senhores!), traço ilógicas trajetórias ao redor do meu destino (sim, perco-me fácil). E lá, contido em lustrosa embalagem, descansando nobremente na prateleira, está o meu antigo anelo. O preço? Não é caro. O problema é sua notória inutilidade. Como explicar-lhe após tê-lo? Mil desculpas, mas eu o desejei e... comprei-o, enfim, depois de uma longa batalha axiológica.

E agora está aí, o crime, camuflado em meio a seus irmãos justificáveis. Acaso me perguntem de sua razão, direi simplesmente que "me deram de presente", ou talvez que "custou uma pechincha, que estava lá, largado, o pobre, sofrendo em meio à poeira e ao descaso e ao esquecimento e ao desdém e ao cruel espanador...". Então finalizarei com um meneio de despreocupação. Convincente?

Minha culpa cristã ralha contra meus luxos e minhas futilidades. Imagina! Como pudeste? Tantas outras coisas merecendo a atenção do teu dinheiro, e pronto me vens com esse... Não consigo nem terminar, tamanha a vergonha. E eu o escondo, usá-lo-ei (usarei?) com o máximo de cuidado para que ninguém veja (ruídos de estertor). O pior é que já começo a achá-lo inútil até mesmo para os meus fins mais fúteis...

ps: caro futuro chantagista, pode contar se quiser, mas jamais lhe entregarei a chave do meu... coração rs.
pps: senhores, o Sol é branco! não se sentem enganados por aquelas representações de uma bola de lava convulsiva?

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

A dignidade das máscaras

Pois para mim, não há decadência que camadas generosas de pó de arroz não possam dar um jeito. Mas como desconheço onde poderia obter tal artigo, e como sei que os códigos sociais aboliram-no, ao que parece, definitivamente, a única maneira é tentar dormir e esperar que a irritação passe. Sim, pois não há remédio melhor para essas horas que o sono.

O século XVIII, sim, era feliz. Não precisavam desperdiçar sua energia tentando criar uma barreira psicológica: as suas máscaras eram, realmente, materiais; seus disfarces eram de incrível substancialidade, acentuada, mais ainda, pela prolificidade de seus exuberante acessórios e pela monumentalidade dos espaços em que se moviam.

ps: antes que venham objetar-me qualquer tolice, tenho plena consciência das variantes de nossa época, e, desde já, dispenso comentários a respeito.
pps: é, eu sempre tive tendência pra virar gravura.

domingo, 6 de setembro de 2009

Insolências e precipitações de um jovem

Após ter dicursado longamente sobre os infortúnios de sua atividade, ele olha pra minha cara e diz: "C'tá ligado?". É por essas e outras que evito ao máximo subir de elevador em prédios comerciais. Não é arrogância (oh! não!), mas a minha tolerância esvai-se com a fome, o calor e o cansaço de uma longa caminhada (sequer reparei em seus "esdrúxulos" andrajos). Meus pés inchados impacientam-se com sua prosa inútil e vulgar, mas, entretanto, misericordioso respondo: "sim". Considerem o meu esforço.

Ah! vejo que trazem mais contas. Que fastio! Por que não as entregam diretamente aos meus tutores? Não bastam meus incômodos compromissos e tenho que cuidar de tais trivialidades (ajeita a gravata). Mas vejam só as horas! (Olha pro pulso sem relógio e sai correndo pra pegar um bonde que, fantasticamente, por ali surgia. Um chapéu voa ao sabor do vento).

ps: devido ao conteúdo insolente, petulante, infame, injurioso, afrontoso, desavergonhado, desonroso, calunioso, difamador e ímprobo, o conteúdo original foi suprimido.
pps: o autor, que neste momento vos escreve, fê-lo de livro e boa vontade.
ppps: comedidamente suplico que instiguem os céus na descrença do que não se perfaz em desenvoltas asas, e que se levantem, solenes e lassos, estendendo suas mãos ao corpo que se encarcerou brandamente em seu dourado fulgor de penas.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Em meio à barbárie

Eu, aqui, enquanto mexo entediado a rodelinha de limão, fico a pensar no enclave que deve ter sido Cyrene, contida em seus cristalinos muros de civilização e rodeada pela rudeza do deserto. Em meio aos bárbaros autóctones, aqueles seres escuros e desprovidos de qualquer refinamento, os colonos ergueram-na fulgurante naquele fértil vale, abrigada por um conjunto de terras altas dos ventos tórridos que sopram do Sahara. Imagino como deve ter sido difícil para eles ensinar àquelas hordas nômades os requintes helênicos, os valores de uma civilização que, saudosa, cantavam coruscantes em sua antiga e gloriosa Hélade. Cyrene deve ter sido os helenos em exílio.

E, pensando em Cyrene, penso em mim, sobrevivendo em meio a esta balbúrdia, a este caos que, de horizonte a horizonte, insiste em horrorizar-me. E, entre, selêucidas e lágidas (essas desvirtuadas tiranias que se pretendem helenas), largo-me em meu canapé, desolado, sonhando ardente com os ventos brandos de uma ancestral pátria que nunca conheci.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Não é por mal...

Digo... digamos? Diga-se, assim impessoal, que muito me constrange quando gentis, cordiais e amabilíssimos colegas resolvem saudar a data de aniversário de um outro felizardo qualquer. Não é por mal, mas... sinto-me, de certa forma, um tanto tolo por cantar parabéns para uma pessoa que mal conheço. Embora, nessas situações, eu me limite a bater palmas, esse simples movimento já é o suficiente para sentir-me ridículo e humilhado. Por favor, parem com isso.

ps: caros futuros algozes desta pátria, as opiniões contidas neste blog não refletem as opiniões da equipe editora (cutuca a estrelinha na testa); e, muito pelo contrário, desejamos tudo de bom pro aniversariante o/; muito nos apraz felicitá-lo, ainda mais em sala de aula, local agradável e adequado para demonstrações de afeto.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Veleidades, apenas

Será que ninguém nunca desconfiou que, das sete maravilhas da Antigüidade, cinco pertenciam à cultura grega? Tirando as pirâmides e os jardins suspensos, só dá grego. Mas eu apoio de todo coração a hegemonia helênica. Inclusive sugiro a substituição das pirâmides de Gizé (aqueles montes horroroso de blocos de pedra) pela acrópole de Atenas. Ou o oráculo de Delfos, sei lá. Fica a dica aí pro Antípatro de Sídon.

ps: sim, esse post visa somente citar o nome do poeta grego, Antípatro de Sídon, a quem é normalmente atribuído a lista.
pps: acho que eu mereço uma estrelinha na fronte por essa.
ppps: tenho simpatia pelos babilônios, por isso, Antípatro, caso me ouças, não risques os jardins suspensos.

domingo, 16 de agosto de 2009

Protesto

Bom, também vou reclamar das calças. Quando eu andava de bicicleta, tudo bem. Mas agora que a abandonei ao mofo do salão de festas, não há motivo para os buracos nas barras (em todas as calças - os furos são voltados para dentro). Meu dinheiro é capim? Por acaso eu vou a cavalo para a faculdade? O que eu fiz pra merecer esses furos? De onde vêm?

E, canalha que sou, aproveito para defender a minha tese de que: "até que exponhas ao escárnio público, nunca saberás o quão ruim é".

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Noturno

Apavora-me que os aedos
Silenciaram seu canto e verve
O odre secou-se e todavia
Estendem-se os páramos ermos
Outrora vergéis.
Extenuado suplico à aurora
Que venha em seus pássaros de ouro
Levem-me abreviado do tempo
Para que a noite não sepulte
Meus sonhos em dor.

Assediam-me as sombras
Dançando refratárias
Em meus olhos de vidro
As torres gritam altas
E enlanguescido expiro.

Carrega-me aurora em tuas asas luminosas
Para além do clangor resplandecente
Que guarda o sol no horizonte em prelúdio.

Opúsculo

Opúsculo: palavra bonita mas de significado insosso. Gostaria que conotasse algo como chaga ou fenda aberta nas escarpas litorâneas. Mas não. Tão sem sabor... Estou procurando alguma coisa para fazer, tipo comprar meias mesmo não precisando. Compro meias como quem compra cigarros (acende um rolo de meia - risos). Experiente, procuro pelas de tons escuros, que aparentam menos sujeira. As minhas estão sempre encardidas, e não me lembro de viver arrastando-as pelo chão. Deve ser o meu tênis, já que os lavo uma vez por ano...

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Arauto

A loucura pousa em meu ombro
Com garras desfazendo os filamentos
Poentos de meus pobres andrajos.
Arauto soturno, para que vens?
Percorreste as distâncias cinzentas
Que latejam insanas em minha fronte
Empapada de suor.
Teu sórdido rei estendeu suas mãos
E força-me em bruscos giros
Contra o tempo esgarçado.
Temo a insanidade que destilas
De teus olhos amarelos
Círculos varando os espaços
De súbito abertos.

Arauto soturno, para que vens?
Ave, confesso-te que há muito
Singro os páramos de teu rei.

domingo, 9 de agosto de 2009

Buraco negro

Messes e safras escorrem
Como borbotões dourados
Ao centro negro que sou,
Pois a morte em meu regaço
Como meu filho maldito
Escancara maltrapilho
Seu choro tuberculoso.

Por que não rolas ao fundo do poço
Como rolam as levitações alvíssimas?
Esgarçam-se as fímbrias do sol cingido
Das manhãs luminosas das vindimas.

Arrastam-se ao centro de gravidade
Alvos pássaros de asas irisadas,
Uma abrupta escuridão que lhes cala
O seu líquido canto florescente.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Experiências culinárias

É nessas horas, aqui, esfregando o chão, que eu me lembro do por que eu ter vindo ao mundo. Em cima da mesa, um bolo murcho e mal-assado. Incrivelmente, a forma conseguiu fazer torrada nas regiões periféricas, e deixou cru (cru!) o miolo. Sem contar o fato de eu haver me esquecido de untar com farinha. Deve estar tudo grudado. Ah... essa amizade entre o bolo e a forma deve ser antediluviana. O que eu derrubei no chão era cobertura pra bolo.

Minto, não havia me esquecido de untar. A primeira vez em que lembrei, já havia tranferido toda a massa para a forma. Despejei de volta, lavei a forma e... despejei na forma novamente. Sem untar!... É claro que eu não podia levar para assar: repeti o processo, disposto a corrigir o erro. Mas eu me esqueci novamente... Com raiva, enfiei no forno assim mesmo. Alguém, ali, pagaria pelos meus erros.

ps: e não, eu não tenho oitenta anos.
pps: gostaria de agradecer ao meu editor por nunca desistir em suprimir os parágrafos que eu, em minha contumácia, insistia em pôr.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Fragmento de conversa V

Abre cortinas.
Acordo. Faz uma linda manhã (chuvosa e fria). Ainda sonolento, deparo-me com uma bandeja cheia de comprimidos, xaropes, pílulas de todos os tamanhos e cores. Abro os braços em plena exclamação de alegria, saudando o dia que chega. Oba! Café da manhã! Nham, nham...

Bom, cansado de entupir-me de remédios, finalmente resolvi ir ao médico para ver se eu sofria da lendária gripe suína. Dor, febre, tosse... Não agüentava mais essa podridão. No consultório, após dizer às recepcionistas sobre meus sintomas, perguntaram-me se eu havia tido contato com alguém de fora. Disse que não sabia, e logo me enfiaram uma máscara: meu mais novo acessório. Mas, fazendo o exame, descobri que não passava de um resfriado forte. Recomendou-me apenas uma injeção para dor e febre e... mais uma porção de remédios.

Fui, então, conduzido para uma sala, onde aguardaria ser furado. Mantive-me comportado, sentado em uma poltrona, enquanto evitava olhar os outros enfermos que padeciam de coisas que meu pudor não me permite dizer. Mas isto não pude conter, não conseguia parar de olhar: um rapaz com uma garrafa na mão, cortada ao meio, contendo um líquido vermelho (digo assim pois, não sei por que idiotice, imaginei que fosse iogurte). Aquilo era seu sangue que ele ia regurgitando aos poucos.

- Brigou? perguntou um menino gordo sentado a seu lado.
- Nem. Eu fiz cirurgia das amígdalas e da adenóide, faz uns dez dias, e não sei por que começou a soltar sangue.

Só rindo. Briga... (eu também cheguei a pensar que fosse). Mas, ah!, meus caros, o rapaz então, de uma só vez, encheu a garrafinha inteira. Até então não passavam de umas cuspidinhas, mas daí vieram vômitos de sangue violentos e, no susto, acabou derrubando no chão todo. Sangue coagulado aos baldes. Eu imaginava que depois de perder tanto sangue a pessoa desmaiava... Enfim, após a seringada, levantei-me, dei um pulinho pra passar por cima da sujeira (upa!), e saí, levando comigo aquela cena sangrenta. Como será a sensação de escorregar no sangue?

A injeção não tardou a fazer efeito: a febre passou, não sinto mais dores nem tonturas... Com meu humor restabelecido, predispus-me a aprender coreografias de danças etéreas. Consegui até tirar a música da Sheila Mello da cabeça ("água/ tô virando água/ corredeira abaixo/ inundando o mundo..."). O flautista anônimo, que há duas semanas eu não ouvia, voltou a tocar sua musiquinha. Ah! e, também, após dias comendo maçãzinha, torradinha, chazinho, etc., dei-me ao prazer de comer pão com manteiga!... Babei. Enfim, a vida voltou a sorrir (a seu modo, claro). Ah!... aquele sangue...

"Vai correndo água/ tô virando água/ teu corpo suado!/ você me secando e eu virando água!" Bom, nem tudo é perfeito, né?
Fecha cortinas.

Fragmento de conversa IV

Abre cortinas.
Ah! Não posso me esquecer de um detalhe irônico: garoava. Quem estuda na UEM sabe que à noite ela é iluminada por lâmpadas amarelas, e sabe, ou deveria saber, o efeito mágico (*-*) causado pelos fachos de luz na chuva. Quem via aquilo até pensava que algo de bom aconteceria. Ai, que tolice... Mas então, tremia de ódio e desolação quando fiquei sabendo. Tão injusto! Tão desnecessário ter que passar por aquilo! Ah! E olha só que engraçado, para não dizer patético: quando descia a escada, vi que algo me escapava do bolso. Era uma nota de dois reais. Então o que me restava era dinheiro? Joguei com raiva no chão. Subindo o caminho de volta, percebi que me molhava. Só então me lembrei que tinha vindo com um guarda-chuva. Disso eu não podia me desfazer. Voltei correndo à sala em sua busca e, ao subir a escada, fiquei procurando com os olhos para ver se a pobre nota ainda continuava lá. Nem sinal, haviam sido rápidos. Com certeza encontrou um bolso mais amigo que o meu. Mas... permanece a dúvida: e se a nota ainda estivesse lá? Eu teria pegado de volta? Uma das coisas que sempre me atormentaram é a minha incapacidade em me manter estável nas atitudes. Parece que sempre se retorna ao estado inicial e nunca se avança... O que será que compraram com os dois reais?
Fecha cortinas.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Fragmento de conversa III

Abre cortinas.
O meu dicionário de bolso está todo se desfazendo: dez anos de uso. Vetusto! Precisava de um novo, um bonito, que me acompanhasse em meus passeios pela casa, ou pelos jardins (universitários)... Que deitasse e rolasse comigo na cama, no sofá, enquanto me jubilava nas páginas amareladas e empoeiradas de um livro que não é nem meu. Parti, então, disposto a arranjar um no sebo.
- Moço, onde ficam os dicionários?
Então ele me acompanhou, o funcionário, até onde ficavam. Mostrou-me enormes dicionários, ilustrados, capas grossas, dignas, dicionários colossais e caros.
- Ah..., sim, mas eu precisava um que fosse de bolso.
- Tem esses aqui, mas são mais pra iniciante, né?
Claro que depois dessa saí da loja carregando dois volumes: ares literários: passos decididos de quem não é um iniciante. Mas não levei nenhum dicionário.
Fecha cortinas.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Novelo

Abre cortinas.

Tomo-me por novelos
De lã azul éter
Os fios fosforescentes
Atando-me anelos
Entre confusos rumos

Percorro com meus dedos
Os fios frágeis elos
De recôndita mente
Buscando-os incertos
Embaraço de lumes

Fecha cortinas.

Prólogo

Abre cortinas.
As cenas ocorrem em uma módica cafeteria. Há uma mesa redonda e pessoas bebericando em suas xícaras, trajadas em suas devidas vestes garbosas. A calorosa conversa será interrompida de momento a momento para ouvir-se uma declamação qualquer. Cochichos aqui e acolá, comentários pertinentes ou não. O declamador, após a cena ou gafe, senta-se arquejante e trêmulo, encarando as caras de desprezo ou indiferença de seus companheiros. Peço apenas a compreensão necessária, pois não passam de amadores enfrentando seu pequeno público.
Fecha cortinas.