Eu, aqui, enquanto frustro-me em desejos anacrônicos, torturando-me em busca de atavismos sem precedentes, sofrendo sob um Sol que não é amarelo mas branco (pasmem, senhores!), traço ilógicas trajetórias ao redor do meu destino (sim, perco-me fácil). E lá, contido em lustrosa embalagem, descansando nobremente na prateleira, está o meu antigo anelo. O preço? Não é caro. O problema é sua notória inutilidade. Como explicar-lhe após tê-lo? Mil desculpas, mas eu o desejei e... comprei-o, enfim, depois de uma longa batalha axiológica.
E agora está aí, o crime, camuflado em meio a seus irmãos justificáveis. Acaso me perguntem de sua razão, direi simplesmente que "me deram de presente", ou talvez que "custou uma pechincha, que estava lá, largado, o pobre, sofrendo em meio à poeira e ao descaso e ao esquecimento e ao desdém e ao cruel espanador...". Então finalizarei com um meneio de despreocupação. Convincente?
Minha culpa cristã ralha contra meus luxos e minhas futilidades. Imagina! Como pudeste? Tantas outras coisas merecendo a atenção do teu dinheiro, e pronto me vens com esse... Não consigo nem terminar, tamanha a vergonha. E eu o escondo, usá-lo-ei (usarei?) com o máximo de cuidado para que ninguém veja (ruídos de estertor). O pior é que já começo a achá-lo inútil até mesmo para os meus fins mais fúteis...
ps: caro futuro chantagista, pode contar se quiser, mas jamais lhe entregarei a chave do meu... coração rs.
pps: senhores, o Sol é branco! não se sentem enganados por aquelas representações de uma bola de lava convulsiva?
Um comentário:
como assim o sol é branco?
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