- Por que você quer saber? - eu pergunto.
- Porque é isso o que pessoas normais fazem! - responde-me a sabedoria encarnada.
Bom, se concordo ou discordo, a verdade é que eu realmente não sei o que pessoas normais fazem, o que pensam, como interagem, e quanto mais as analiso menos quero saber. Vejamos, segundo esse ser superior que se ergueu contra minha reclusão, pessoas normais fazem perguntas. Pessoas normais igualmente trapaceiam, tecem comentários incoerentes, fazem cálculos errados. Se um fenômeno ocorre com determinada freqüência, a sua correção não será proporcional a essa mesma freqüência. A natureza fede, apodrece. Espécies inteiras esforçam-se para se adequarem ao ambiente, o qual as condiciona e as maltrata, e a todo instante correm o risco de serem dizimadas. A natureza (sinceramente, isso devia ser óbvio) erra. Logo, normalidade não é critério, é fato, e não serve como argumentação.
Para mim, o mundo bem que poderia se parecer com aquilo que imagino que Titã deva ser: um mundo gelado, encoberto de brumas e povoado de lagos silenciosos. E, nesse mundo, não haveria chatos a me fazerem perguntas que não devem. Não porque suas perguntas sejam esdrúxulas, mas pelo singelo fato de que, quando educadamente indago do motivo de sua pergunta, é porque não o considero autorizado a saber. Entenda, não porque o considero burro, ou mesmo pedante, ou mesmo de modos asquerosos e impertinentes, mas se eu mesmo não contei a você é porque eu não quero que você saiba. É difícil?
O mundo é assim: uma algazarra aviltante a que eu pacientemente tento enxergar uma ordem. Por favor, não pense que eu me juntarei a isso pelo mero fato de que eu o compartilho com você. Há fatos que eu não posso controlar, e nem por isso os encaro como corretos.