terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Rápido, a pedra!

Há uma cena em Dragon Ball Z em que Babidi está prestes a ser destruído por um colérico Piccolo. Não me lembro dos detalhes, apenas disso: um arruinado, ensangüentado, esbugalhado e empoeirado Piccolo, contraindo todos os músculos de seu corpo e espírito, aos urros e gemidos, em toda a concentração animalesca de sua energia vital e a do universo, espasma suas garras virulentas de onde um potente raio amarelo tenta, penosamente, atravessar o escudo mágico que Babidi havia convocado murmurando, tão singelamente, "proteção". Um verdadeiro ator da burocracia.

Essa cena é o paradigma da minha vida. Resume, de certa forma, o meu temperamento e o meu ideal. Os poderes de Piccolo provém de sua condição animal; é a conversão de sua força física em energia luminosa, não sem antes a custo de muita luta e sofrimento. O universo plasma-se em um cone imensurável desde a palma da mão de Piccolo até as galáxias mais distantes, pois Piccolo é o próprio Universo, a própria vida: está condicionado à matéria, às suas vicissitudes e transformações; é ele próprio a degradação e a dor. E, como resultado, seu poder é muito superior, ao menos quantitativamente, ao de Babidi.

Já os poderes de Babidi não são outra coisa que não mágica. São fórmulas, sentenças capazes de manipular a realidade. Seu uso não implica em gasto, cólera ou destruição, pois esses atalhos, capazes de levar o mago de um extremo ao outro de maneira instantânea e segura, não são criações nem implicam qualquer transformação. Já estavam ali, e tudo o que Babidi precisa fazer é descobri-los, conhecê-los e, assim, dominá-los. Babidi não cria leis, apenas as conhece e as usa. Diferentemente de Piccolo, um mago não distorce o Universo: de seu emaranhado de gravetos, um mago puxa-os para si ao seu talante sem fazer desmoronar a pilha. Parece contraditório, mas Babidi, de alguma forma, é capaz de sair sereno e limpo.

E, bom, aonde eu quero chegar com isso? Acontece que, de ambos, o único que sai intacto é Babidi. Piccolo, ao fundir os elementos do universo, destrói a si mesmo. Babidi, ao contrário, conservando-o, é capaz de preservar-se, e mesmo que, tal como Piccolo, sua ação desencadeie as forças naturais, com elas não se identifica, pois as manipula desde um ponto externo sem que se imiscua o mago. Piccolo, ao contrário, age como um conversor de energia, e, no final das contas, não é ele muito diferente de uma estrela ou de qualquer outro elemento do universo  (não lembro se Piccolo destruiu o escudo; o que não não vem ao caso).

5 comentários:

wanessa g. disse...

Eu adorava assistir, agora tô numa onda mais 'animações pra mulherzinha'. adorei a sua explanação sobre o desenho, acho que Piccolo morreu, não lembro também rs.

Murilo Munoz disse...

Eu dizia que não gostava, mas eu assistia. Acho que Babidi não morreu nas mãos de Piccolo, mas de seu próprio monstro, Madimbu (clássico). E Piccolo morre, não sei por quem. Mas deve ter sido ressuscitado e etc.

Anônimo disse...

vc é gênio

gabriel disse...

Como eu adorava Dragon Ball Z!
Aquela lentidão toda pra tudo (nunca vou me esquecer, na saga do Freeza, do "faltam cinco minutos para acabar Namukusei" que duraram mais de 15 episódios). Saudades.

p.s.: só não curtia que a morte não tinha valor algum nesse anime. Todo mundo morria e ressuscitava o tempo todo. :(

Murilo Munoz disse...

Sim, morrer não tinha valor algum. Eu até achava legal o desenho, mas tinha aquela coisa meio entediante de lutas intermináveis, eu ficava agoniado com aquelas transformações demoradas, os gemidos, os urros, etc.