sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Este não é um livro de sabedoria

Certo dia, atraído pela fama de seu sábio, veio um estranho à aldeia de Wang-Bei, às margens do Wi-Po, a procura de um conselho. Havendo encontrado a sua casa, estava o sábio de cócoras a riscar o chão com um pauzinho enquanto assoviava baixinho em seu idioma de velho. O estranho aproximou-se e, após haver-lhe feito a reverência, perguntou:
- Mestre, sou rico, tenho uma boa esposa, bons filhos, mas não sou feliz. O que devo fazer?
O velho, ainda de cócoras, ergueu-lhe os olhos e disse:
- Deves encontrar o caminho do Norte; quando encontrá-lo, por ele seguir.
- Mas, mestre, que caminho é esse de que me falais?
O sábio, havendo se posto de pé, caminhou pacientemente para o meio da estradinha e, convidando o estranho para que se aproximasse, apontou-lhe o caminho do Norte, o qual seguia sinuosamente para além das últimas casas da aldeia até confundir-se aos montes Quong, limites da província.
- Vês o norte? - indagou-lhe o sábio.
- Sim, mestre, porém ainda não entendo.
- Entenderás, pois.
O velho, então, fincou bruscamente suas mãos no chão e, soltando um urro, fez desprender um enorme bloco de terra. O estranho recuou vários passos, absolutamente atônito, mas antes que pudesse compreender qualquer coisa, o velho golpeou-lhe repetidas vezes até que um fio de sangue começasse a escorrer desde o topo de seu crânio.
- Isto é o caminho do Norte - disse o sábio, abandonando o bloco a um canto e espanando as mãos.
O estranho, havendo limpado o fio de sangue com a manga, fez-lhe a reverência, voltou-lhe as costas e seguiu para as províncias do Sul, onde não era a sua casa, nem havia sábios de que soubesse.

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