Eu, aqui, enquanto mexo entediado a rodelinha de limão, fico a pensar no enclave que deve ter sido Cyrene, contida em seus cristalinos muros de civilização e rodeada pela rudeza do deserto. Em meio aos bárbaros autóctones, aqueles seres escuros e desprovidos de qualquer refinamento, os colonos ergueram-na fulgurante naquele fértil vale, abrigada por um conjunto de terras altas dos ventos tórridos que sopram do Sahara. Imagino como deve ter sido difícil para eles ensinar àquelas hordas nômades os requintes helênicos, os valores de uma civilização que, saudosa, cantavam coruscantes em sua antiga e gloriosa Hélade. Cyrene deve ter sido os helenos em exílio.
E, pensando em Cyrene, penso em mim, sobrevivendo em meio a esta balbúrdia, a este caos que, de horizonte a horizonte, insiste em horrorizar-me. E, entre, selêucidas e lágidas (essas desvirtuadas tiranias que se pretendem helenas), largo-me em meu canapé, desolado, sonhando ardente com os ventos brandos de uma ancestral pátria que nunca conheci.