quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Baratas são insetos, não Césio-137

" - Bonjour, mon ami! Je m'appelle Michel Durand. Je suis français, j'ais quarante ans et je suis ingénieur. Je suis marié et j'ai deux enfants. Je suis né le quatooooooo!!!!..."

E é assim que sou apresentado a uma simpática baratinha (e, não, isso não foi um grito, mas mera elevação do tom de voz; eu raramente grito; aquela noite em que eu acordei com um grito foi algo inédito na minha vida, por favor, Sr...). Prontamente meu instinto infantil alertou-me de uma perigosa intrusa que deveria ser imediatamente combatida. De um pulo, interrompi todos os meus afazeres e, depressa, saí correndo em busca do veneno. Já de posse, não me poupei e, barrocamente, espargi litros em cima da nefasta ameaça (aqui o Iluminismo mandou lembranças com seu candeeiro). Não teve tempo nem de fazer suas epopéicas corridas pelos aposentos. Morreu antes que pudesse detalhar completamente seu cartão de visitas. Pronto! Missão cumprida! Lamento tão somente o impacto que sinto sempre que elas aparecem. É uma sensação de repugnância e de desconforto com a natureza, como se essa estivesse sempre na iminência de mostrar-me as bestialidades que cultiva secretamente enquanto durmo (para mais reflexões, leia: KANGUSSU, André. Reflexões sobre a vida. Curitiba: Déjà Lit, nov. 2009).

É de fato uma pena, e peço a mim mesmo mais racionalidade da próxima vez. Afinal, as baratas são tão sórdidas e desprovidas de beleza quanto qualquer outro inseto (com exceção das abelhas, abelhas são amigas). Não há necessidade para tamanha exasperação. Veja bem, eu esmago com os dedos formigas, pernilongos, gafanhotos e até deixo as joaninhas passarem incólumes através dos meus domínios. Com as baratas é diferente. Ninguém que eu conheça mataria uma com as próprias mãos. Mas por que as baratas provocam tanto asco nas pessoas? São tão enojadas e temidas que facilmente viram assunto. Eu sei, eu compreendo. Não ignoro que fedem. Sei que transmitem doenças. Mas esse alvoroço todo chega a ser doentio. Sem contar que, depois de ter matado, demora-se um tempo para esquecer sua presença. E isso não é legal.

Não estou defendendo uma atitude passiva diante das baratas. Acredito piamente na necessidade em exterminá-las da face da Terra. Só gostaria que as pessoas não as tratassem como problemas do mesmo nível de um incêndio. E também, gostaria que não passassem isso às crianças, nosso futuro. Às criamça não vou incutir temor nem asco. Antes, trabalharei para que sintam ódio e destemor por elas. Teria gosto em vê-las correndo atrás das baratas, ansiosos de seu sangue, perseguindo-as implacáveis pela casa. Sua intrepidez seria tanta que fariam um colar de seus crânios e competiriam entre si para ver quem matou maior número. E não sentiriam nenhum nojo, nenhum medo. Está bem, imaginação a parte, só quero que matem baratas como eu mato formigas e outros insetos. Assim, que não se sintam frágeis diante de situações que inevitavelmente acontecerão. Só isso.

PS.: A citação inicial possui efeitos meramente cômicos.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Filigranas

Com visita em casa, propus-me a fazer chá. Porém, a proposta antecedeu ao fato: não havia me dado conta que só restava um sachezinho. Por óbvio que eu não ia dar escândalo. Por óbvio que eu não ia mencionar o fato. Simplesmente usei o mesmo sachê para as duas xícaras. Eu sou assim. Estou orgulhoso de mim mesmo pela discrição e por resistir à tentação de alardear a miséria do meu armário (fazer de suas agruras assunto: 4 pontos+antecipação da hora de ir embora). E é claro que eu não perguntei se o dito cujo gostaria de mais chá. Na verdade, foi sorte do convidado, pois eu não hesitaria em pegar de volta do lixo. Às vezes, meus caros, é necessário um pouco de heroísmo para salvarmos um pouco do que resta em nossas decadentes vidas.

Lição para a vida I: Não é preciso ser Jesus para perceber que um sachê rende mais do que uma xícara.
Lição para a vida II: Sempre, mas sempre desconfie de seu anfitrião.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Superfície de Vênus


Pintura do artista espacial Chesley Bonestell, nos anos 50. Lindo, não? Gostaria de morar (pelo menos passar uns tempos) em um lugar assim, de tirar o fôlego. Observem a densa atmosfera responsável pelas temperaturas calcinantes do planeta (460ºC, em média), resultado de um galopante e inexorável efeito estufa (o ar é 96% de dióxido de carbono). Aqui e ali, refrescantes nuvens de ácido sulfúrico. Não vejo a hora do mesmo acontecer à Terra...

(Imagem obtida da obra "Pálido ponto azul", de Carl Sagan. Pobre livrinho... Sofreu para adequar-se na superfíce bidimensional do scanner).

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Segundas Intenções

Essa carta é belíssima. Ganhou minha predileção não tanto por sua utilidade (que é bastante, visto que não só meramente destrói a criatura infensa, mas remove-a de jogo, anulando absolutamente sua existência), mas pela idéia que traz. Sempre fui, de certa forma, avesso às estratégias agressivas, descaradas, óbvias demais. Não gosto das cartas que ridiculamente baseiam-se na força bruta, ou simplesmente fazem o jogador perder pontos de vida (que graça?). Não. Isso é, para mim, tão insípido... Aniquilam, sem dúvida, a força do inimigo, mas, além de ser simplista demais, deixam intacto o princípio. Prefiro as cartas que controlem, manipulem, neutralizem o inimigo. Sou muito mais as jogadas que envolvam persuasão, dissimulação. Por exemplo, cartas que façam o oponente "revelar a sua mão", descartar, bloquear o ataque, assumir o controle, mesmo que temporariamente, da criatura inimiga, virar criatura alvo, anular mágica, etc. O jogador até desfruta de prosperidade, mas não consegue mover um dedo. Mormente, persuadir o inimigo a desistir; exaurir por completo sua vontade de continuar; convencê-lo de que é inútil tentar qualquer ataque. "De repente Forin começou a compreender que a lavoura era uma profissão até que nobre". E plim!, a criatura desaparece! Belíssimo, não? Essa carta sabe onde está o poder. Bom, agora só falta confessar que muitíssimas vezes perdi a despeito da beleza dessa estratégia. Mas, enfim, a arte em si mesma.