sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Um piano quando desatina

Bom, não se nega que as experiências presenciadas neste  laboratório com buracos-negros foi um portentoso êxito da Ciência ao demonstrar que, sim, a deformação da malha espaço-temporal, através da concentração de matéria em um ponto infinitesimal, possibilita a viagem através do tempo e do espaço, a que eu chamo peculiarmente de "viagem espaço-temporal[faz aspas com os dedos]. Mas, também, conseguimos com que a viagem dê-se somente através do espaço, ou somente através do tempo, conforme o desejo do viajante ou conforme melhor atenda aos fins desta Instituição de Pesquisa. É claro, é claro...

Entretanto, não se pode dizer que o mesmo sucesso deu-se no plano dimensional do comércio (debalde eu explicasse aos patrocinadores do projeto as infinitas oportunidades de tráfico de artefatos históricos, exploração de minas na Lusitânia, captação de ventos do fluxo do portal dimensional na forma de energia eólica...), e por isso tivemos que recorrer a soluções inteligentes que ao mesmo tempo atendessem à Ciência e aos interesses de nossos empresários. E, para a nossa salvação (de nossos postos de trabalho e de nossas pesquisas com buracos-negros), a solução veio, graças aos nossos incessantes e frutíferos trabalhos no porão (ah, o porão!...).

Por isso, é com muita alegria que eu lhes apresento o inovador *FaZedoR de EsPaguEte HiperDiMenSioNal*. Não, não precisam fazer essas carinhas. É muito simples, e sei que estão aptos a compreender. Como sabem, os buracos-negros fazem com que a malha espaço-temporal dobre-se sobre si mesma como uma manta, devido à enorme força gravitacional gerada pela concentração de massa em um espaço muito pequeno. Pensem da seguinte forma [os alunos fazem cara de quem está pensando, pondo os lápis nas bocas e acenando as cabeças afirmativamente]: ao trespassar uma bexiga com uma agulha, necessitamos de um determinado tamanho de linha, a que eu chamo de "x". Porém, se essa bexiga tem suas extremidades comprimidas até se encostarem uma na outra, o comprimento da linha necessário será de "y", sendo que y > x, e x = ycm... hum... Bom, o importante é que a agulha atravessará ambas as paredes sem necessitar de comprimento de linha algum, de modo que a passagem é praticamente instantânea. Sendo assim, quando se pára de comprimir as paredes da bexiga, essas voltam ao seu lugar, fazendo com que novamente o comprimento de linha seja "x".

E, observando esse curioso fenômeno, nós nos indagávamos: o que aconteceria se puséssemos massa de farinha de trigo dentro do portal e desligássemos intermitentemente o buraco-negro, como os fantasmas fazem a um interruptor de luz? Chegamos, então, em nossos caderninhos, à mesma equação: sp = b.58+farinha+worm(hole)/m.c2. Interessante, não? Mas as respostas obtidas a partir daí divergiam drasticamente, sendo que algumas apontavam para a construção de uma nova Atlântida em Açores, e outras deduziam que o nosso Universo não era verdadeiro, mas uma mentira induzida em nosssos cérebros por Sauron. Transferimos, então, os dados em nosso computador, para que decifrasse para nós a verdade tão unanimemente expressa que, porém, chegava a tão diversos resultados. Mas, infelizmente, a resposta obtida pelo computador foi 42, e tivemos que ameaçá-lo com a fogueira para que parasse de fazer-nos pilhérias e dissesse de uma vez o resultado verdadeiro. E, para nossa supresa, a resposta foi espaguete. Mas é claro!, eu pensei. Tão óbvia! Bem debaixo de nossos narizes e nós não a vimos, o que nos deixou bastante surpresos porque sempre estávamos a olhar para os buços um do outro. Era assim, então, que funcionava: ao jogarmos a massa dentro do wormhole, e desligando o portal com ela ainda lá dentro, a massa estica até tomar a forma de um fio de espaguete muito fino e comprido. Brilhante, não?

E é assim que inauguramos a nossa própria fábrica de espaguete em nosso laboratório, cuja comercialização auxiliou-nos a adquirir esses galantes jalecos que brilham no escuro. Entretanto, devo dizer, o aproveitamento da massa posta no portal é apenas de 56%, que pretendemos melhorar com o passar do tempo. Acredita-se que o restante é perdido para outras dimensões conectadas involuntariamente pelo buraco-negro. Mas, em minha opinião, estamos diante de um clássico caso de pirataria intergaláctica. Quanto a isso, já estou encaminhando uma petição à Rainha para que bloqueie os portos dos mundos coniventes com esse vil contrabando que tanto nos onera. Agora, se me permitem, vou conduzi-los ao nosso refeitório, onde poderão provar nosso delicioso espaguete. Aliás, já colocamos, como nossa especial cortesia, pacotes de macarrão em suas mochilas enquanto anotavam o que eu falava.

Um comentário:

Nina. disse...

Que dor de cabeça...
O Sauron está aqui em casa.
Dê um "olá" para ele, Sauron!