sexta-feira, 3 de junho de 2011

Humano com peruca cai





















Sei que parecerá absurdo, mas eu já quis ser humano. Não é tão divertido quanto dizem, com exceção dos patins. Adotei-os para a minha vida em definitivo. E as perucas. Ah, sim, as perucas... Mas, como eu estava dizendo, em querer ser humano, tornei-me insaciável. Não, não falo de cartões de crédito. É outra coisa. Eu queria ser mais do que um humano, queria poder mais do que eu podia, significar mais do que eu conseguia suportar. De meu quarto, centrifugado em meio aos lençóis, sonhos estranhos atormentavam o que devia ser a minha alma. Eu passava horas olhando pela janela, tentando abarcar todo o horizonte de edifícios com uma única pretensão, um único estigma. Um dia, inevitável como eu só agora posso assim dizer, sombras intermináveis atravessaram minhas órbitas, espalhando a loucura pela cidade, empalhando desertores ao longo das avenidas, seus fantasmas de idéias e suas vaidades. Então, quando toda a cidade restou rendida perante meus pés, resolvi que era hora de parar. Liguei os propulsores e parti. Anos de terapia com nossos melhores médicos não seriam suficientes. De manhã, ainda sou capaz de senti-la, interminável, em eterno abismo, agitando-se de entre minhas costelas, meu esôfago. Quando pergunto se podem retirá-la, eles não entendem, respondem que não há nada. Então me levanto e sacudo meus maxilares frouxos. Saio pelo portal e arrasto-me em palidez pelas imediações do palácio, vagando, intransponível em palavras e anseios. E sempre com ela que, temo, nunca me abandonará.

2 comentários:

Nina. disse...

Se eu lhe contar, você não vai acreditar...

Bom, vou falar assim mesmo. Fui à uma palestra ministrada pelo "homem" aqui retratado. Uma palestra com um tema banal e mundano.

Murilo Munoz disse...

haha ainda bem que eu não prestei atenção! magina as coisas absurdas que não fala