segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Coração de areia

Nos pálidos nodos das espáduas desliza
O negro manto de súbito despertado
Sobre o silêncio da torre de brilhante hulha
Onde de trás sequiosas esconsas polias
Erguem pesados anéis do velo de sombras
E vestem-me a opalina pedra erigida.

Marcham os úmidos pés sobre o promontório
Emerso dos braços de estrelas esgarçadas
Nas rochas da noite, e no cinzento zimbório
Das nuvens finco-me o gume de rouca ânsia
Vertida das pulmonares bolsas inchadas
Das notas contorcendo-se em amarelo óleo.

Espraio-me nas douradas trompas do abismo
E deixo levar-me o vento a inútil espuma
Dos cabelos cobertos em sinos de sal,
Como se o silvo me arrefecesse aos ouvidos
O sentido de meu rastro pelo ermo gelo
Onde estremece a aurora em semblante esquecido.

Pairo lúcido espectro sobre a vela ardente
De uma insone memória que em luz de cinábrio
Rasga-me o odre de ferro como a um ventre,
E em febre nas trevas em asas de quitina
Arrasto-me extinto de todo o antigo anelo
Perdido em roxas brumas dos olhos pungentes.

Revolvem no lodo as rodas o frágil vulto
Que submerso decanta seus veios de cálcio
Pelo pântano como um coração de areia,
E nas dragas de lúrida fronte convulso
Enfim descubro a mais dura pedra colhida
Vazar em lama de ervas dos punhos oclusos.

Um comentário:

Nina. disse...

Isso está muito bom (você há de concordar que é melhor eu não escrever mais nada).