domingo, 24 de outubro de 2010

Por que nós não precisamos de carros?

Ontem notei que eu não tinha um carro, quero dizer, não um que seja propriamente meu, o que foi, obviamente, uma surpresa, pois eu sempre tive a impressão de que eu estava indo para algum lugar. Então todos aqueles carros, limusines e ônibus não eram meus? Estou estarrecido e acabo de despejar a água do vaso em minhas costas, pois, francamente, eu realmente tinha a impressão de nunca precisar pedir ou implorar para que o carro começasse a andar. Eu embarcava, fechava os olhos, e... voilà! Lá eu estava. No começo achei que fosse alguma espécie de teletransporte acionado pela força do pensamento, ou algo como uma irresistível obediência à simples presença de minha autoridade. Mas agora sei que eu estava apenas pegando uma carona. Entretanto, após muito pensar, acabei concluindo que nós não precisamos de carros. Isso é o que tentam nos convencer, mas a verdade é que veículos motorizados são simplesmente dispensáveis, e nós podemos chegar a qualquer lugar em que queiramos ir, não importa a distância, porque:
  1. Nós, seres humanos, somos portadores de um dom que recebemos muito antes de nascer, e os contos de fadas estão repletos de relatos que comprovam que esse dom sempre esteve presente entre nós, a despeito de todo ceticismo. Não precisamos de carros porque, simplesmente, os pássaros podem nos carregar, bastando chamá-los e dizer-lhes o destino pretendido. Branca de Neve não foi a primeira nem a última a utilizá-los. Rápidos e singelos, os pássaros não requerem mais do que um punhado de alpiste para levá-lo a qualquer lugar além das colinas.
  2. Mesmo que você não tenha uma voz angelical para chamar os pássaros, há sempre a opção de virar um monge. Como todos sabemos, os monges adquirem, após muito treinamento, a capacidade de viajar através da luz dos vitrais, bastando para isso algumas horas de meditação e jejum. Há um amplo sistema de monastérios integrados ao redor de todo o mundo à disposição dos monges, de modo que todo monastério - não há erro - acabará dando em outro monastério, e isso pode tornar-se uma oportunidade única para conhecer toda a Cristandade.
  3. Entretanto, caso não haja monastérios em sua cidade, ainda pode-se contar com um sistema descoberto na Inglaterra vitoriana, que, embora haja controvérsias a respeito de sua moralidade, não há dúvida de que funcionou muito bem. Consiste em dar pancadinhas com a bengala nas juntas das pernas, quero dizer, na parte anterior dos joelhos, entre a coxa e a panturrilha. Uma pequena pancadinha nas pernas de uma criança proletária é capaz de transportá-lo de sua suíte até o teatro. Uma pancadinha nas pernas de um estivador o fará atravessar o Atlântico, proporcionando-lhe uma viagem de negócios até Boston rápida e sem enjôos. Nunca foi tão fácil apostar na bolsa de Nova York.
Como podem ver, não precisamos de carros. Nosso sistema de transporte é sem dúvida poluidor, caro e de dúbia comodidade, e não hesito em dizer que em breve estará moral e economicamente defasado quando souberem disso.

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