domingo, 27 de março de 2011

Fica esperto, Sieyès

Em minha busca entediante, quase aflitiva, por conhecimentos acadêmicos, deparei-me com o seguinte trecho de um artigo na Revista de Direito Constitucional e Internacional: "Segundo Sieyès (1982), o supremo poder no Estado não cabe ao povo, ao conjunto de homens num determinado momento e em um determinado território, mas à nação, que é uma entidade abstrata, a personalização dos interesses permanentes e profundos de um povo, das gerações em sucessões. Quem é representada é a nação, e não o povo. Este ao votar age como órgão da nação para a escolha de seus representantes. Assim, ao votar o indivíduo formula a vontade da nação soberana".

Curioso para saber mais e... Bom, na verdade mais por dever mesmo, resolvi ir atrás desse tal de Sieyès, tendo como única pista a referência bibliográfica deixada pela cara autora, de onde supostamente teria inferido a assertiva citada. Para minha sorte, a referência em questão era apenas um panfleto escrito à beira da Revolução Francesa, de poucas páginas e facilmente encontrável na internet: "O que é o Terceiro Estado, por Abade Emmanuel Joseph Sieyès".

Pois bem, tendo lido e relido o panfleto, ficou a pergunta: onde diabos Sieyès disse isso? Pois eu não encontro em lugar algum, e mesmo que fosse possível assim inferir, só se por meio de interpretação em conjunto com outros textos, o que aparentemente não aconteceu. Se é verdade que em algum lugar ele disse isso, certamente não foi nesse panfleto, o qual talvez ela nem tenha lido. Mas se leu o panfleto, dolosamente mentiu, por indolência ou egoísmo, que tal informação ali poderia ser encontrada. E se essa informação realmente existe, onde quer que ela tenha lido isso, não foi diretamente através de uma obra de Sieyès, mas de um autor qualquer que dolosamente omitiu em sua bibliografia final.

O que aprendo com isso é a desilusão, o ceticismo, o cansaço de mundo. O que faz uma pessoa agir assim? Indolência, pressa, ganância, sei lá eu. Não confio mais, eis tudo. Essa questão já havia passado pela minha cabeça repetidas vezes, mas até ter experimentado concretamente não pretendia levar a sério. Afinal, precisamos confiar nas informações que nos transmitem. Não é possível vivermos o tempo todo alertas. A desconfiança em demasia é nociva, beira à loucura. Mas é surpreendente como a mentira chega aos detalhes.

Isso é um aviso pro Sieyès, a fim de que tome as providências que achar necessário. Quanto aos outros, fica dado o alerta: acaso resolvam agir da mesma forma, fiquem sabendo que, sim, há chatos como eu que não se importarão nem um pouco em conferir e difamá-los. Aliás, o nome da autora é Regina Macedo Nery Ferrari. Vejo um dedo podre apontado para você.

3 comentários:

Lucas disse...

UUUU, barraco!

Nina. disse...

Ah, eu sei como isso é frustrante, não ver, na fonte indicada, o trecho procurado. Mentira, nunca fiz isso que você fez. Mentira, já fiz sim.

Às vezes encontro o trecho procurado, às vezes não. Já pensou que o material que você encontrou pode estar incompleto, ou mesmo ser falso? Ou então, já pensou em como está fácil conseguir doutorado pela UFPR?

Murilo Munoz disse...

Realmente foi, principalmente porque eu precisava da informação, para a minha monografia. :(. Bom, não podemos esperar muito de quem se apaixona por isso, né?
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Mantenham a calma, senhores. Não usem suas bengalas e... Nada de pistolas! Nada de pistolas!