Vou dizer uma coisa que me fascina. Não, vou dizer uma coisa que me faz ser brilhante. Isso mesmo. Aquela mania peculiar que todo ser humano, um belo dia, num encontro em patamares superiores de civilização, descobre para si e faz hastear no mastro. Então ele se dependura na beirada de sua gávea e faz assim com as mãos, como quem olha o horizonte e muito mais além. E todos lá embaixo, personagens coadjuvantes por um instante fugaz, contemplam o misterioso observador, boquiabertos.
Não, não adianta dizer. Eu sei o quanto isso me torna especial. A minha especialidade, inclusive, eu suspendi num anzol, e sei que todos os peixes do mundo virão fisgá-lo. Amarão tanto quanto eu, e isso nem é meu coração que diz, mas minha sagacidade humana, a qual tão sabiamente eu surpreendo pilotando um automóvel desgovernado numa metrópole sem vias. Daí, sim, eu posso dizer que aquilo que me torna especial é surpresa igualmente nos corações alheios.
Mas não pode ser anseio, porque o anseio é algo bem mais íntimo, e é bom que os demais desejem de uma forma totalmente diferente da minha. Essa força motora não se põe no mostruário juntamente com seu objeto. O afã, que está por trás daquilo que suponho ser admirado pelos outros, não dá sua cara. Quem gosta de mostrar sua intensidade já é outra coisa, é exibicionismo, como quem beija os músculos, e provavelmente sequer desconfia quão fútil e desinteressante é essa força perante os demais.
4 comentários:
um crescente de diversão.
que textinho legal. cê não perde o pique entre um parágrafo e outro, e supera os sem-degraus sem arfar.
não deu tanta raiva por você não contar o seu segredo. o prazerzinho de um trecho bem escrito te anistia da maldade de fazer hora com o leitor!
parabéns.
obrigado. mas eu jamais confessaria qualquer coisa aqui. deus que me perdoe transformar isso num diário onde você expõe toda essa carne putrefata para o sarcasmo e diversão alheios.
Seu demiurgo!
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