domingo, 21 de novembro de 2010

Bem melhor

Oh! Por favor, Mr. Bonestell, assim você me comove! Não devemos alimentar nossos sonhos com semelhantes emoções, ainda mais quando a sua realização mostra-se bastante nebulosa. Mas quem sou eu para jogar uma pá de areia em cima? Eu mesmo venderia todas as minhas jóias e... Bom, eu não tenho jóias. Mas eu daria todo o meu ordenado e... Sei que o dinheiro que eu tenho é obviamente insignificante, e mesmo que eu fosse rico eu não poderia fazer volume frente aos recursos exigidos para tal empreitada. Então darei meu sincero e caloroso apoio (o que já vale por si, diga-se de passagem).











E por falar em viagem tripulada a Marte... Fico a pensar quão tolo é opor qualquer objeção a empreendimentos dessa natureza alegando que os recursos exorbitantes de que carecem poderiam ser melhor empregados na solução de problemas urgentes. Sei que resolver a fome na África ou em algum cantão de sua cidade realmente parece de suma importância. E, para ser sincero, eu também acho. Mas ora, a fome sempre é e sempre vai ser um problema de primeira necessidade. Ir ao banheiro também. Pode gastar quanto dinheiro você quiser para abafar tudo isso, mas amanhã isso tornará a ser uma necessidade de igual urgência. Marte pode até esperar, mas a troco de quê acham que existe algum objetivo na vida? A vida pode até ser um bem, mas fim eu tenho certeza que não é, e ninguém que eu saiba age de forma diferente.

Além do que, há tantos outros recursos que poderiam ser mais bem direcionados para garantir a vida de todos (e eu não vou nem falar dos gastos militares) que é uma maldade botar esses olhos de mendigo em cima do orçamento das agências espaciais. Na verdade, a maioria das coisas são inúteis para garantir a vida, a começar pelo seu cachorro e o seu xampu; e olha que estou sendo bonzinho. A vida não é mesmo muito exigente, e poderíamos muito bem sermos condicionados em cápsulas, mergulhados em algum líquido especial, com simuladores ligados ao nosso cérebro. Uma viagem a Marte, ou mesmo a construção de um jardim enorme e suntuoso em nada têm de essencial, não prestam a garantir a sobrevivência, e tanto melhor seria se fossem uma horta. Entretanto, os recursos são igualmente abundantes, e há espaço de sobra para empreendimentos fúteis. Muito mais do que abundante, daria para reproduzirmos à vontade palácios de Versailles, sem que isso implicasse necessariamente em fome.

Mas mesmo que não houvesse recursos o bastante, eu venderia minhas jóias (se eu as tivesse) e passaria meus dias com um sanduíche de manteiga no estômago se isso fosse necessário para permitir uma viagem a Marte. E a conclusão a que eu chego disso é que tanto melhor é um empreendimento quanto mais fútil ele for à vida. A vida, que nem mesmo chega a ser um valor, pode ser de qualquer um, é mesmo invariável, substituível. A vida de hoje será a mesma de amanhã, com algumas leves alterações genéticas conforme o vir das gerações. Mas viver por viver não é bem a nossa especialidade, e a maioria dos seres vivos fazem isso de uma maneira muito mais eficiente. Precisamos de viagens a Marte não porque isso dê algum sentido a tudo, mas porque... é legal.

Um comentário:

Nina. disse...

Não creio que você nunca foi a Marte! É, com toda certeza, um lugar excelente!