segunda-feira, 26 de março de 2012

Sobre as boas maneiras II

Desta vez falarei sobre as boas maneiras. Não à mesa, coisa que suas mães já devem ter ensinado, mas em sala de aula. Desde há quase duas décadas vivo em uma, e penso que muitas outras pessoas também, por isso acho que o que vou expor aqui tem algum interesse prático... pela primeira vez em meu blog. Nunca vi ninguém mencionar nada a respeito, mas tenho cá comigo que possui um sentido comum e intuitivo, principalmente para você, meu caro colega invisível, que, assim como eu, preza pela ordem e pelo silêncio.

Em primeiro lugar, falemos sobre a carteira-sanduíche, recheio de biscoito, o creme do seu pavê. Confessemos o quanto é desagradável estar situado entre dois amigos que não são seus amigos, mas apenas entre si. Nessas ocasiões, penso que teria imenso gosto em estapear as bochechas de quem a todo instante fica voltando a cabeça para trás para bisbilhotar, chamar a atenção, conversar, mencionar algo que-não-sei, e tudo isso se passando como se quem está imediatamente atrás simplesmente não existisse. Pois desde pequeno sala de aula foi-me ensinado assim: o professor entrou, silêncio e postura até que termine.

Mas esse argumento também valeria para os colegas do lado, da frente, do fundo, enfim, para todos. O principal motivo não é a sua inquietude ou a falta de sentido de ordem, coisa que eu tenho muito prazer em ignorar, mas o fato de que, ao voltar seu rosto em minha direção, eu percebo que tal rosto possui dois olhos; dois olhos como dois faróis, enormes e possuídos. E eles carregam uma violência que me incomoda: a violência de dois faróis me atravessando, dois fachos invasivos a que eu devo simultaneamente atentar-me e permanecer indiferente. Como se isso fosse possível.

Muito bem, é verdade que não se pode proibir que em todas as situações alguém olhe para trás, porém isso deve ser feito de um modo discreto, sereno e rápido. E que não se repita o gesto senão por extrema necessidade, o que significa que muito provavelmente só deverá ser feito uma única vez. Pois que ninguém pode olhar para trás, encontrar-se com os olhos de outro e sair levianamente. Essa conjunção involuntária é amarga demais, é trazer à consciência, de novo e de novo, o fato de se estar rodeado por estranhos; é trazer à tona uma intimidade entre duas pessoas sem que para tanto se estivesse pronto ou fosse querido.

7 comentários:

Priscila disse...

De utilidade Pública.

Edson. disse...

Sociofobia deve ser tratada. Te dará paz de espírito.


Belo blog.

Murilo Munoz disse...

Olá, Priscila, seja bem-vinda.

E Edson, creio que o texto não trate de sociofobia: isto aqui é humor.

Queiroz disse...

Humor dos melhores ;}

Murilo Munoz disse...

Olá, Wanessa. Como vai?

Queiroz disse...

Eu estou bem, Murilo. Me divertindo com os seus textos sempre que posso, em silêncio rs.

Edson. disse...

Eu sei que é. ;)