Desta vez falarei sobre as boas maneiras. Não à mesa, coisa que suas mães já devem ter ensinado, mas em sala de aula. Desde há quase duas décadas vivo em uma, e penso que muitas outras pessoas também, por isso acho que o que vou expor aqui tem algum interesse prático... pela primeira vez em meu blog. Nunca vi ninguém mencionar nada a respeito, mas tenho cá comigo que possui um sentido comum e intuitivo, principalmente para você, meu caro colega invisível, que, assim como eu, preza pela ordem e pelo silêncio.
Em primeiro lugar, falemos sobre a carteira-sanduíche, recheio de biscoito, o creme do seu pavê. Confessemos o quanto é desagradável estar situado entre dois amigos que não são seus amigos, mas apenas entre si. Nessas ocasiões, penso que teria imenso gosto em estapear as bochechas de quem a todo instante fica voltando a cabeça para trás para bisbilhotar, chamar a atenção, conversar, mencionar algo que-não-sei, e tudo isso se passando como se quem está imediatamente atrás simplesmente não existisse. Pois desde pequeno sala de aula foi-me ensinado assim: o professor entrou, silêncio e postura até que termine.
Mas esse argumento também valeria para os colegas do lado, da frente, do fundo, enfim, para todos. O principal motivo não é a sua inquietude ou a falta de sentido de ordem, coisa que eu tenho muito prazer em ignorar, mas o fato de que, ao voltar seu rosto em minha direção, eu percebo que tal rosto possui dois olhos; dois olhos como dois faróis, enormes e possuídos. E eles carregam uma violência que me incomoda: a violência de dois faróis me atravessando, dois fachos invasivos a que eu devo simultaneamente atentar-me e permanecer indiferente. Como se isso fosse possível.
Muito bem, é verdade que não se pode proibir que em todas as situações alguém olhe para trás, porém isso deve ser feito de um modo discreto, sereno e rápido. E que não se repita o gesto senão por extrema necessidade, o que significa que muito provavelmente só deverá ser feito uma única vez. Pois que ninguém pode olhar para trás, encontrar-se com os olhos de outro e sair levianamente. Essa conjunção involuntária é amarga demais, é trazer à consciência, de novo e de novo, o fato de se estar rodeado por estranhos; é trazer à tona uma intimidade entre duas pessoas sem que para tanto se estivesse pronto ou fosse querido.
7 comentários:
De utilidade Pública.
Sociofobia deve ser tratada. Te dará paz de espírito.
Belo blog.
Olá, Priscila, seja bem-vinda.
E Edson, creio que o texto não trate de sociofobia: isto aqui é humor.
Humor dos melhores ;}
Olá, Wanessa. Como vai?
Eu estou bem, Murilo. Me divertindo com os seus textos sempre que posso, em silêncio rs.
Eu sei que é. ;)
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